segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Despedida Do Eu Uso Óculos

Gurizada bôa que me lê.

Quero avisar que logo irei excluir esse blog, porque ele está vinculado a uma conta de e-mail que eu não uso mais. Esse e-mail já foi até excluído pélo yahoo por falta de uso. Mas como gostei de fazer esse bloguinho, por menos assídua que fosse aqui, fiz um outro vinculado a minha conta do google do e-mail do hotmail. que é a que eu uso regularmente.

O novo bloguinho se chama Lente Alternativa
LinkEndereço: http://lentealternativa.blogspot.com/

Consegui, depois de muita fuçação no blogger exportar todas as postagens e comentários do Eu Uso Óculos para lá. Peço que saibam que o design do blog ainda não está fixo, e pode ser modificado ainda várias vezes, ainda não me decidi... Portanto não se guiem pelo design, e sim pelo título e endereço do blog.

Espero que continuem me lendo...
Como diria o Faustão: Obrigado pela sua audiência e pela sua paciência (shuashuashuashuashua)

Tchau
Nos vemos no Lente Alternativa.
Abraços,

Maíra Ponto Óculos Arroba Hotmail Ponto Com

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Minhas Razões


Não só por ser jovem milito
por um mundo de igualdade
mas por ver possibilidade
de tornar realidade
o que você diz ser um mito.

Há algum tempo atraz
você falou não ser rico
por ser alguém incapaz.
Mas nisso não acredito
pois és apenas mais um
que reproduz esse discurso
do velho senso comum.

Só é cego quem esquece
que a justiça é evitada
por um sistema que escurece
minha idéia argumentada.

Mas não feche os seus ouvidos.
Me permita esclarecer
que o que os seus olhos não veem
irá de fato acontecer.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Antônio Prata "O Peter Pan era um idiota."


Quando eu tinha por volta de treze anos de idade, comprei umas duas ou três vezes a revista Capricho. Acabei não comprando mais porque ali se falava basicamente em roupas e produtos caros demais para a minha situação financeira, seriados que eu nunca vi pois não eram da TV aberta e bandas que eu não curtia pois os poucos amigos que eu tinha na época não influenciavam meu gosto musical. Tipo, enquanto as minhas amigas escutavam KLB e Guns'n Roses eu escutava Legião Urbana (que comecei a ouvir pq meu ator preferido disse que gostava numa entrevista), Sandy e Junior, a trilha sonora da Malhação e música gauchesca. Mas algumas entrevistas, relatos e colunas me marcaram bastante. A que mais marcou, de longe foi a coluna do Antônio Prata que segue.


O PETER PAN ERA UM IDIOTA

Alguma vez já aconteceu com você de aquela tia chata apertar a sua bochecha e dizer, empolgadíssima: “Aproveita, menina! Aproveita porque essa é a melhor fase da vida! E passa tão depressa! Aproveita!”?Eu lhes digo sem apertar a bochecha: fiquem tranqüilas. Não dêem bola. Por vários motivos. Em primeiro lugar: se alguém aperta a bochecha do próximo(ás vezes nem tão próximo assim...), achando que está agradando, é mais do que óbvio que esse alguém não sabe patavinas sobre a vida. Mas há mais coisas na frase da tia.Há uma fantasia dos adultos sobre a infância e a adolescência. Talvez essa fantasia surja de adultos infelizes que, não vendo muita perspectiva em melhorarem no futuro, acabam pintando o passado com as cores mais contentes, como quem diz: “Ah! Pelo menos na juventude eu fui feliz!” Lá pelos meus 15 anos, sendo nerd exemplar, de óculos e aparelho nos dentes, eu me lembro de ficar angustiado, pensando: está passando! E eu não estou aproveitando! Não saio de role em conversíveis com mulheres gostosas, como nas propagandas de Campary, não faço trilhas selvagens de mountain bike como nas propagandas de Gatorade, nem derreto corações tocando sax como nas propagandas de Free. E vai acabar o prazo, eu não terei aproveitado, já serei adulto e tudo será chato!Pois tenho a honra de lhes dar uma ótima notícia: do alto (alto?!) de meus 24 anos, posso dizer que na idade adulta também há lugar para a felicidade! E muito! Não faço trilhas de mountain bike ,não toco sax nem tenho um conversível, mas tenho uma namorada que amo (e que, se for verdade o que me diz, me ama também), moro sozinho, nunca mais tive que decorar formúlas de química, ganho meu próprio dinheiro e, quando deixo a toalha molhada em cima da cama, sabe o que acontece? Nada! Claro, a minha vida dos 13 aos 20 foi mais difícil do que a do Rodolfinho, por exemplo, um cara da minha classe que era bonitinho, rico, jogava bola pra caramba e cantava bem. Mas eu aposto que, cada Rodolfinho,devem existir uns 15 Antonios (e Antonias) que não fazem a metade do que eles fazem e se angustiam. Por isso, minhas caras, se a vida não está a melhor coisa do mundo neste momento, fiquem tranqüilas. Tem tempo para tudo. As oportunidades batem, sim, muito mais do que uma vez á sua porta.

(Antonio Prata)


Além de gostar bastante da forma ágil e acessível como o colunista se expressa, me identifico com as coisas que ele diz. Quando eu era adolescente sentia uma angústia muito grande por não saber como seria a minha vida. Não sabia se haveriam possibilidades para mim, por exemplo: poderia eu, uma menina da escola pública passar no vestibular de uma faculdade Federal? Será que eu poderia escrever e publicar ou teria de dar duro o dia inteiro num trabalho cansativo e não teria tempo de escrever? Será que eu conseguiria ter amigos, me sentir pertencente a um grupo algum dia ou será que era verdade quando os meus colegas bullies me diziam que eu era ridícula, chata, que ninguém se interessaria pelos meus assuntos? Será? Será? Será? Bem, a vida me deu algumas respostas. No ano em que eu estava estudando pro vestibular os estudantes tomaram a reitoria da UFRGS exigindo a implantação da política de cotas. Era direito meu, facilitou minha entrada na universidade. Conheci então o pessoal do movimento estudantil. Foi ótimo pra mim, que já era interessada em política. Ali encontrei um grupo digno de uma música do Legião Urbana chamada vamos fazer um filme (o sistema é maus, mas minha turma é legal) e vi que eles tinham muito em comum comigo. E com relação à escrita, na falta de uma editora vai um bloguinho mesmo. Quanto ao meu Futuro profissional com F maiúsculo, estou lutando pelo que eu quero. Não estou negando a influência do sistema na minha vida, mas hoje me sinto mais agente da minha própria vida, menos dependente da minha família. E me sinto feliz por, tanto no programa onde sou bolsista quanto na militância no movimento estudantil estar procurando construir um mundo mais justo.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ingenuidade política


Nesse jogo, a população deve tomar a posição de ação e dar xeque mate na burguesia.

Oie gente.
Já deve ter dado pra perceber com alguma clareza o quanto me interesso por política, não? Pois é. E cá esto eu para falar mais um pouco desse assunto...

Já faz tempo, ando escutando "pérolas" da ingenuidade política.
Uma delas, de uma menina razoavelmente politizada que eu conheci. "Eu não acredito em partidos, acredito em pessoas." #fail! Partidos representam idéias e pessoas se filiam a idéias. Ou deveriam se filiar. Se o político X diz que está no seu partido por outro motivo que não as idéias do mesmo, ou troca do partido como eu troco de óculos (tipo uma vez por ano) já deveria ser descartado pelo eleitor, pois só está querendo o cargo para se beneficiar dele, e não para defender uma idéia na qual acredita. Creio que dervemos pensar no partido pois ele representa TODO um projeto de sociedade.
Indo no mesmo caminho, teve uma de um guri que eu conheci na net "Não sou de direita nem de esquerda. Se um partido defender algo útil para a população eu apóio independentemente de ser esquerda ou direita." É mais ou menos a mesma coisa. Esquerda e direita tem projetos diferentes para a sociedade. E não pensar nisso é negar o tamanho da complexidade da coisa, afinal a sociedade não é feita de ações isoladas.
Tem também uma de um amigo meu, uma das mais trash. "Votei em X porque é boa pessoa." Vota em mim então, né véi!!! Eu sou boazinha pacas, até levo cafezinho pra minha mãe quando ela tá vendo a novela. :D Mas falando sério, a pessoa tem que defender bons projetos! Claro que é importante que seja honesto, coerente e atuante. Mas "boa pessoa" é pré requisito prá monge que faz voto de pobreza. Aliás falando em voto de pobreza, a Bru Holmes do Verdade Inversa me chamou a atenção que pelo menos dois candidatos a senadores pelo RS aqui apelaram para sua pobreza no passado pra ganhar votos na propaganda política. Uma delas abertamente de direita, de um partido que apóia o agronegócio e que foi apoiada pela RBS o tempo todo. Tsc tsc.

Mas nem sei porque eu fico falando tanto em eleições burguesas. Eu sou socialista, construo a ANEL e não acredito que vá ser dentro desse raio de sistema capitalista que a população vai ter uma vida decente.
Mas, só prá completar teve uma pérola que eu não lembro se foi sobre a chapa pro DCE (que eu e a minha companheira Nate Gasparini apoiávamos) ou sobre a chapa pro DA da Letras (que eu apoiava e a Nate estava na nominata). "Não cheguei a conferir muito bem as propostas, mas confio em vc, confio na Nate e vou votar na chapa de vcs." Eu mereço, né!? É assim que muito curral eleitoral se faz: uma liderança local com influência entre a população fica a serviço de algo maior e os seus simpatizantes nem se tocam. Na eleição pro DA até não seria tão terrível, pq era de chapa úica, mas para o DCE eram quatro chapas bem diferentes entre si. Era coisa para comparar e ver com quem concordava sim.

E não rola esse negócio de: "eu não quero ter nada a ver com isso." Isso é se anular, e do bem estar do mundo depende SIM o noso bem estar e o das gerações futuras. Os Brasileiros são realmente muito calejados com nossa vasta história de corrupção na política, mas é só a união e a luta dos trabalhadores que pode modificar isso. E aos estudantes, estar junto com eles nessa luta.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Perfil

A foto onde estou mais bonita de todas as que eu tenho. Foi tirada por minha tempestuosa amiga Hellena, do blog A pé no Pampa.

-Sou deficiente visual. Filha de mãe com baixa visão e pai cego. Creio que no mundo e na universidade deveria haver mais chances, mais acessibilidade e menos preconceito. Gosto de ler/me informar/discutir sobre esse assunto.
-Quero ser professora. Faço Letras Licenciatura Português e Espanhol. Acredito na educação para mudar o mundo e criar consciência nas pessoas.
-Sou feminista. Defendo a legalização do aborto pois acredito que sua proibição não impede que ninguém o faça. Acho que se deve dar condições para que as mulheres decidam sobre seu corpo. Odeio a objetificação e os padrõs generalizantes. Devemos nos orgulhar das diferenças.
-Sou a favor de um estado laico. Sou contra o ensino religioso nas escolas. Creio que deve haver liberdade de crença e de descrença também. E creio que a Igreja não deve intervir no governo MESMO.
-Sou a favor do casamento gay e da igualdade de direitos para pessoas de orientações sexuais diferentes.
-Sou de esquerda. Acho bastante ingênuo, ou melhor, demagógico dizer que todos têm as mesmas chances e podem fazer de suas vidas o que quiserem. Deveria ser verdade, mas não é. Devemos lutar para qu seja.
-Não sei se acredito em Deus. Se Deus existe, porque criou a humanidade? Só para ficar vendo a humanidade sofrer? Racionalmente, não consigo crer na sua existência...
-Eu uso óculos. Quando era pequena odiava isso, ma hoje adoro. Já faz parte de mim, do meu estilo. E adoro aquela música do Paralamas...
-Tenho o cabelo "tóin-óin-óin" e não uso chapinha. Devo admitir que meu amor pelos meus cachos vem da insatisfação de outra mulher com seus cabelos- a minha mãe. Ela tem o cabelo lisinho, bem escorrido. Tanto ouvi ela reclamar daquele cabelo que passei a amar o meu, que é o exato oposto do dela.
-Odeio comida de gente fresca. O meu negócio é feijão com arroz. A minha mãe vive me zuando por causa disso.
-Não vejo graça nenhuma no McDonalds.
-Quase não gosto de música em inglês. Tem algumas poucas exceções dos Beatles, do REM e do The Who. Em compensação em Espanhol só não escuto mais pq não conheço mais. Mas estou sempre procurando.
-Não sou muito chegada em filmes. Deve ser pq sou deficiente visual e os filmes geralmente têm apelo visual forte. Mas nunca fui apaixonada por nenhum filme...
-Curto muito escrever, mas não escrevo muito. Morro de remorso, pq sempre tenho a impressão de que estou deixando de fazer algo da faculdade.
-Comecei a gostar de ler com a Turma da Mõnica (que amo até hoje). Depois fui para o Pedro Bandeira e para os Karas e depois cheguei no Veríssimo, Voltaire, Dostoiévski e etc...
-Sei lá pq gosto de espanhol... Só sei que gosto. Acho que é a identificação com a cultura.
-Sou de Escorpião, ascendente em Virgem lua em Peixes. Acredito em astrologia e a tríade de signos citada me descreve: intensa, imaginativa, e etc...
-Gosto da origem indígena do meu nome Maíra. O Sol dos índios Mairuns... Tenho orgulho do fato de que quem escreveu o livro Maíra foi o mesmo que idealizou as escolas de tempo integral: Darcy Ribeiro. Mas esse orgulho tem algum fundamento?...
-Nasci dia 7/11, Aniversário de León Trotsky e dia da revolução Russa pelo calendário Gregoriano, e no ano de 1988, ano da Constituição vigente no Brasil. "Politiqueira" até na data de nascimento.
-Faço amigos que nem conheço pela internet. Curto bastante orkut, msn, twitter e meu bloguinho aqui, mas deveria dar mais atenção a ele.
-Gosto de ler em voz alta para meus pais e conversar com eles sobre os livros.
-Me interesso por história. Sempre achei interessante.
-Gosto de saber meio por cima essas teorias de física quântica que dariam um livro de ficção científica, como a teoria das cordas. Mas não tenho a pretensão de saber tudo sobre elas. Não levo jeito para as exatas.
-Na área de Letras, o que eu mais curto é Literatura e Formação de Leitores. É muuuito bala.
-Penso em seguir carreira acadêmica, mas só depois de alguns anos como professora. Tudo o que eu não quero é formar professores sem saber como é a prática da profissão. E qdo eu crescer, for doutora e trabalhar em uma universidade federal, vou querer trabalhar com extensão, não apenas com pesquisa. Não acho legal engavetar anos de trabalho em uma biblioteca sendo que poucas pessoas irão ler. Prefiro a extensão, que é contato direto com a comunidade.
-Não tenho sonhos muito diferentes dos sonhos das pessoas normais. Quero me casar um dia, ter um ou dois filhos, ser feliz.
-Quero contribuir para a autonomia de pensamento dos meus alunos, dessa forma contribuir para a sociedade.

Gostaria de deixar claro que essas são apenas opiniões minhas.

Essa sou eu. Pelo menos algumas das coisas nas quais eu acredito.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Culpa Desnecessária

Esta é a CEU, a Casa do Estudante Universitário da UFRGS, na João Pessoa.

-Oi Lia. -Disse a mãe, chegando do trabalho.
-Oi mãe. Vai ficar ocupada agora?
"Você vai me ouvir! Vai me ouvir! Eu consegui o que queria, mãe. Você não vai me impedir."
-Não.
"É agora!"
-Preciso conversar com você. Bem mãe, eu passei no vestibular... Eu QUERO fazer a faculdade.
"Eu vou ir atraz do que eu quero. Eu PASSEI no vestibular. Agora posso ir atraz do meu sonho."
-Como Lia? Vai se teletransportar para Porto Alegre todo o dia?
"Para que ser irônica, mãe? Não faça eu me irritar com você."
-Eu voi ir morar lá, mãe.
"Você vai ter de aceitar isso."
-Isso até tem graça, Lia.
"Será que você não engole que eu vou sair um dia do seu controle? Será que você não aceita que eu conquiste a minha liberdade?"
-Eu posso ficar numa casa de estudantes.
"Eu já me informei sobre tudo. Eu sei o que devo fazer."
-E quem vai cuidar de você, Lia?
"Se você continuar intransigente vou ter de fazer o que preciso sem a sua permissão. Mas no fundo, eu gostaria que você me entendesse."
-Eu sei me cuidar sozinha, mãe.
"Mas eu queria era que você me apoiasse. Mas não vou dar para traz."
-Bem, suponhamos que você saiba se cuidar sozinha: como fico eu aqui, Lia?
"Mãe, eu não vou cair nesse seu jogo. Eu não posso! Não posso! Eu gosto muito de você, mãe. Mas não vou me deixar levar mesmo que eu morra de culpa depois."
-Ah, não faz chantagem, mãe.
"Você está sendo muito cruel. Está tentando provocar uma culpa desnecessária, que não se justifica..."
-Não é chantagem, Lia. ocê é minha única filha.
"Se você não teve mais filhos foi por que não quiz. E você sabe se cuidar sozinha."
-Mas eu não vou desistir do meu futuro, mãe!
"Eu não posso restringir a minha vida a essa cidadezinha onde não tenho chance de progredir. Eu tenho capacidade, posso desenvolvê-la. Quero estudar!"
-Esse assunto morreu aqui, Lia. Você vai ficar morando aqui comigo e vai cuidar de mim assim como eu cuidei de você quando você era pequena.
"Você está me forçando a fazer algo que eu não quero, mãe. Eu vou estudar em Porto Alegre. Eu vou atraz do meu sonho."

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Névoa Branca


Fazia frio dentro de mim.
Algo me incomodava, me fazia ficar desesperada...
Lá fora, tudo continuava terrivelmente impessoal. Injustiças acontecendo sempre. Competição. Pessoas afastadas, umas contra as outras... Só a união mudaria isso. Mas a situação não favorecia a união. Círculo vicioso.
Era nesse mundo que eu procurava meu lugar, meu papel. Não encontrava. Eu estava pensando nisso.
O frio de dentro de mim começou a tomar volume, não parava de aumentar. Uma névoa começou a escapar de meu interior, como água branca de cloro quando derramada.
Essa névoa crescia, se alimentava do frio de dentro de mim. Me envolvia, cada vez mais densa. Lentamente começou a me sufocar.
Tentei aplacar aquele frio. Em vão! O mundo lá fora não emanava calor. O frio não morava apenas no meu interior. O que eu poderiafazer? A névoa continuava a crescer e a me envolver. Era muito maior do que eu. Eu chorava. Acreditava que o mundo impessoal era a causa do meu desespero. Acreditava-me pequena e fraca. Mais do que isso: incapaz. Então ouvi: "Seja forte." Achei que era uma alucinação. Era uma voz grave e bonita que me falava. "Seja forte." Ouvi novamente. Fiquei bastante confusa, mas a névoa pareceu perder um pouco da desnsidade. Parecia que a simples possibilidade de alguém estar me ouvindo diminuiu o frio de dentro de mim. "Essa névoa não irá deixá-la em paz enquanto houver frio dentro de você." "E como faço para me esquentar? O frio está por toda parte." "Pense em algo que dê calor." "Mas o que...?" "Rápido! Senão a névoa volta a crescer." Me disse a voz com urgência. Do nada, comecei a recitar um poema de Bandeira. A névoa ficou mais tênue. "Isso! Continue!" Emendei uma de Drummond. A névoa diminuiu. Continuei por mais algum tempo. Aquela voz sempre me lembrava de que estava me ouvindo. Depois de algum tempo de luta a névoa desapareceu por completo. "Você sempre me ouve?" "Sim pois passei por algo semelhante." "Onde você está?" "Dentro de você." "Como você pôde me ajudar?" "Porque você permitiu." "O que devo fazer para vencer a névoa?" "Pode ser recitando. Mas dev ser algo de que você goste muito. Se não resolver, coloque uma música e cante. E se concentre na canção..."Mas como você sabia o que fazer?" "Eu também sentia frio dentro de mim. Muitas vezes a névoa tentou me sufocar e não conseguiu. Sempre que ela surgia eu cantava. Mas certa vez não consegui controlá-la, então ela me consumiu..." Fiquei espantada! "No entanto muita gente me viu cantar. E minha voz ficará para sempre dentro deles."
-------------------------------------------
"Eu acredito que a cadência e a harmonia certas no momento certo podem despertar qualquer sentimento, inclusive o da felicidade nos momentos mais sombrios” (Yoñlu)