
Quando eu tinha por volta de treze anos de idade, comprei umas duas ou três vezes a revista Capricho. Acabei não comprando mais porque ali se falava basicamente em roupas e produtos caros demais para a minha situação financeira, seriados que eu nunca vi pois não eram da TV aberta e bandas que eu não curtia pois os poucos amigos que eu tinha na época não influenciavam meu gosto musical. Tipo, enquanto as minhas amigas escutavam KLB e Guns'n Roses eu escutava Legião Urbana (que comecei a ouvir pq meu ator preferido disse que gostava numa entrevista), Sandy e Junior, a trilha sonora da Malhação e música gauchesca. Mas algumas entrevistas, relatos e colunas me marcaram bastante. A que mais marcou, de longe foi a coluna do Antônio Prata que segue.
O PETER PAN ERA UM IDIOTA
Alguma vez já aconteceu com você de aquela tia chata apertar a sua bochecha e dizer, empolgadíssima: “Aproveita, menina! Aproveita porque essa é a melhor fase da vida! E passa tão depressa! Aproveita!”?Eu lhes digo sem apertar a bochecha: fiquem tranqüilas. Não dêem bola. Por vários motivos. Em primeiro lugar: se alguém aperta a bochecha do próximo(ás vezes nem tão próximo assim...), achando que está agradando, é mais do que óbvio que esse alguém não sabe patavinas sobre a vida. Mas há mais coisas na frase da tia.Há uma fantasia dos adultos sobre a infância e a adolescência. Talvez essa fantasia surja de adultos infelizes que, não vendo muita perspectiva em melhorarem no futuro, acabam pintando o passado com as cores mais contentes, como quem diz: “Ah! Pelo menos na juventude eu fui feliz!” Lá pelos meus 15 anos, sendo nerd exemplar, de óculos e aparelho nos dentes, eu me lembro de ficar angustiado, pensando: está passando! E eu não estou aproveitando! Não saio de role em conversíveis com mulheres gostosas, como nas propagandas de Campary, não faço trilhas selvagens de mountain bike como nas propagandas de Gatorade, nem derreto corações tocando sax como nas propagandas de Free. E vai acabar o prazo, eu não terei aproveitado, já serei adulto e tudo será chato!Pois tenho a honra de lhes dar uma ótima notícia: do alto (alto?!) de meus 24 anos, posso dizer que na idade adulta também há lugar para a felicidade! E muito! Não faço trilhas de mountain bike ,não toco sax nem tenho um conversível, mas tenho uma namorada que amo (e que, se for verdade o que me diz, me ama também), moro sozinho, nunca mais tive que decorar formúlas de química, ganho meu próprio dinheiro e, quando deixo a toalha molhada em cima da cama, sabe o que acontece? Nada! Claro, a minha vida dos 13 aos 20 foi mais difícil do que a do Rodolfinho, por exemplo, um cara da minha classe que era bonitinho, rico, jogava bola pra caramba e cantava bem. Mas eu aposto que, cada Rodolfinho,devem existir uns 15 Antonios (e Antonias) que não fazem a metade do que eles fazem e se angustiam. Por isso, minhas caras, se a vida não está a melhor coisa do mundo neste momento, fiquem tranqüilas. Tem tempo para tudo. As oportunidades batem, sim, muito mais do que uma vez á sua porta.
(Antonio Prata)
Além de gostar bastante da forma ágil e acessível como o colunista se expressa, me identifico com as coisas que ele diz. Quando eu era adolescente sentia uma angústia muito grande por não saber como seria a minha vida. Não sabia se haveriam possibilidades para mim, por exemplo: poderia eu, uma menina da escola pública passar no vestibular de uma faculdade Federal? Será que eu poderia escrever e publicar ou teria de dar duro o dia inteiro num trabalho cansativo e não teria tempo de escrever? Será que eu conseguiria ter amigos, me sentir pertencente a um grupo algum dia ou será que era verdade quando os meus colegas bullies me diziam que eu era ridícula, chata, que ninguém se interessaria pelos meus assuntos? Será? Será? Será? Bem, a vida me deu algumas respostas. No ano em que eu estava estudando pro vestibular os estudantes tomaram a reitoria da UFRGS exigindo a implantação da política de cotas. Era direito meu, facilitou minha entrada na universidade. Conheci então o pessoal do movimento estudantil. Foi ótimo pra mim, que já era interessada em política. Ali encontrei um grupo digno de uma música do Legião Urbana chamada vamos fazer um filme (o sistema é maus, mas minha turma é legal) e vi que eles tinham muito em comum comigo. E com relação à escrita, na falta de uma editora vai um bloguinho mesmo. Quanto ao meu Futuro profissional com F maiúsculo, estou lutando pelo que eu quero. Não estou negando a influência do sistema na minha vida, mas hoje me sinto mais agente da minha própria vida, menos dependente da minha família. E me sinto feliz por, tanto no programa onde sou bolsista quanto na militância no movimento estudantil estar procurando construir um mundo mais justo.